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quinta-feira, 22 de maio de 2008

MATA ROMA: O tântalo de Chapadinha.


José Mata de Oliveira Roma, um dos mais ilustre filho de Chapadinha nasceu em 23 de janeiro de 1896. Conhecido como Professor Mata Roma, bacharel em Direito pela faculdade de Direito do Maranhão, da qual mais tarde, foi professor de Direito Civil.
Nesse ano predominava o Simbolismo, uma escola literária de poetas. Vários de seus integrantes morreram pobres, não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecidos até hoje.
Mata Roma começou seus estudos em Chapadinha. Em seguida, mudou-se para o município de Brejo, onde terminou o curso primário. Foi para Teresina-PI, onde concluiu o ginásio e o cientifico. Após superar diversas dificuldades em sua vida, e trabalhar como vaqueiro em sua terra natal e, mais tarde, comerciante, foi para São Luis, onde prestou vestibular, ingressando na Faculdade de Direito, na rua do Sol, formando-se em dezembro de 1925, em Bacharel em Direito.
Os dois irmãos se notabilizaram como exímios oradores. Mata Roma, porém, mostrou cedo sua veia literária. Era poeta, jornalista, político e catedrático de Português no Liceu de São Luis, que dirigiu por vários anos, e onde ingressou por concurso, com a tese A Questão do Quê. Lecionou Literatura em diversos estabelecimentos de ensino na capital do maranhão. Ex-diretor do Colégio Estadual e do Colégio "Cisne Branco", do qual foi proprietário. Mata Roma também colaborou em diversos jornais de São Luís. Lecionava gratuítamente nos colégios "Centro Caixeral", "São Luís" e "Santa Tereza". E era amado pelos estudantes.
Entre os trabalhos literários, escreveu: Cartas Chilenas, Visão Crítica, Brasil, Poemas, Histórias Compiladas, Velhos Rítmos, dezenas de artigos e produções em prosa e versos publicados nos jornais da época, mostrando sua grandeza, versatilidade e genialidade.
Mata Roma foi eleito vereador, sendo escolhido por seus pares para presidência da Câmara Municipal de São Luis. Foi um dos fundadores e professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Luís, lecionando nessa instituição Literatura Portuguesa. Chefiou o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários - IAPC, Serviço de Aprendizagem Comercial e o Serviço Social do Comércio do Maranhão. Pertenceu à Diretoria do Departamento de Literatura da Sociedade de Cultura Artística; titular da Cadeira 17 da Academia Maranhense de Letras, cujo patrono foi Sotero dos Reis.
Vitima de câncer nos pulmões, provavelmente provocado pelo consumo de cigarros, Mata Roma faleceu no dia 20 de setembro de 1959 em São Luís, onde passou a moior parte de sua vida.
Mata Roma chamava seus amigos queridos de "Meu Besta", era um tratamento especial. Assim o fez quando José de Ribamar Araújo Costa (Zé Sarney) entrou para a Academia Maranhense de Letras. Saudando com a seguinte frese: "Entre, meu besta, a casa é sua".
O ano de 1945 foi um ano de profundas transformações - a segunda guerra mundial havia terminado, o interventor Paulo Ramos foi substituído pelo Dr. Clodomir Cardoso. A mudança atingiu o Liceu Maranhense. O professor Mata Roma foi nomeado Diretor do Educandário e mantido mais adiante, pelos interventores Elezar Campos e Saturnino Belo. O corpo docente do Liceu rejubilou-se com a designação do mestre para dirigir o Liceu. Mas essa fase foi abalada em 1947 por uma violenta crise interna, motivada pela inesperada nomeação do professor Araújo para Diretor do Liceu Maranhense. Nenhum aluno estava indo às aulas e todos exigiam a volta do professor Mata Roma. O prefeito de São Luís Costa Rodrigues mandou o secretário Merval convocar a Congregação, a fim de que esta indicasse uma listra tríplice.
A Congregação decidiu a critério do governador a escolha do diretor. Para alegria dos professores e alunos, o mestre e poeta Mata Roma foi reconduzido à direção do Liceu.
Em 1946, Mata Roma vivia uma grande paixão. Apaixonou-se por uma aluna que lhe inspirava antológicos sonetos. Mata Roma amava com a mesma intensidade sua esposa Elza a quem era fiel e essa jovem, sua aluna. Todas as vezes que se aproximava dela, lembrava que era casado, muito bem casado e respeitava sua mulher. E assim nada houve entre ele e sua aluna. Pois em 1946 essa paixão era considerada escandalosa pela sociedade. Os costumes da época não permitiam, jamais, que esse duplo sentimento aflorasse e viesse à tona. E mesmo que aflorasse e viesse à tona seria sufocado, em nome da moral e da decência.
Em nome desse amor impossível, dessa paixão arrebatadora e avassaladora, inebriado e sofrendo com a ironia do destino, Mata Roma foi buscar na mitologia greco-romana refúgio para as dores do seu coração. E compôs Tântalo, um dos mais belos sonetos de sua autoria.

Tântalo

Conta uma lenda antiga, cuja fama
pelos tempos modernos inda voa,
que lá no inferno, condenado à toa,
de fome e sede Tântalo rebrama.

Junto, corre uma fonte clara e boa.
Perto, um galho de frutas se recama.
Mas, se ele quer comer, se afasta a rama,
e, se tenta beber, a água se escoa.

Tem minha vida e a lenda o mesmo traço,
flagela-me também um vão desejo,
fome e sede incontidas também passo.

Punido como Tântalo me vejo:
Tão perto desse corpo, e não te abraço!
Tão junto dessa boca, e não te beijo!

Texto: Herbert Lago Castelo Branco

A reprodução deste texto ou qualquer parte dele é permitida, desde que seja dado o crédito de autoria e fonte, conforme as normas e leis.

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sábado, 17 de maio de 2008

NONATO VALE: Um lírio de extinta floração.


A precocidade literária de Nonato Vale há muito se tornara conhecida nos meios sociais e estudantis de Chapadinha. E por onde ele passava, deixava seu restro luminoso de seu estro.
Raimundo Nonato Vale era filho de José Gonçalves do Vale e Florinda Jesuina do Vale, nasceu em julho de 1924 na cidade de Lusilândia no estado do Piaui, onde exerceu, em 1946, cargo na polícia civil do Estado do Piaui.
Da infância despreocupada e feliz que relembraria sempre com emoção, citando fatos vividos, eram-lhes mais gratas as recordações relacionadas aos pais, como demonstram estas duas estrofes dos sonetos Meu Pai e Minha Mãe - Minha Vida, de sua autoria.


Meu pai viveu em aura de bonança
e fez da vida sempre um livro aberto
onde deixou exemplo como erança
de como pode alguém viver tão certo.

Ao despertar do meu primeiro dia
quando os olhos abri para este mundo
ela, ao meu lado, trêmula, sorria
qual uma santa em extase profundo.

Desde os anos 40 Nonato Vale vivia feliz em Chapadinha, cidade que o recebera de braços abertos, onde granjeara grandes amigos.
Não tardou muito para que conhecesse uma ilustre jovem de tradicional familia Chapadinhese, Elin Barroso Vieira Passos, com quem se casou em setembro de 1949.
Desse consórcio nasceram os filhos: Carlos Barromeu, Ninda Celeste, Serenilia, Zizinho, Márcia Lúcia, e Luís Augusto.
Num belíssimo soneto nos fala do nascimento de sua segunda filha, relembrando mais tarde o envelo da família.

Serenilia

Existe em nossa casa, qual raínha
de deslumbre e raro encantamento
uma vivaz e meiga bonequinha,
que é de todos o divertimento.

Causa-me orgulho tê-la como minha
qual flor mimosa que balança ao vento
se lhe abraço, me afaga e me acarinha,
e sai correndo, noutro estouvamento.

Dois anos ela tem, mas não parece...
Em cada riso seu há tanto encanto
que algo divino, dele transparece

É toda a graça e envêlo da família
e eu, principalmente, a quero tanto:
Pois ele é minha filha... A SERENILIA.

Como político em Chapadinha, Nonato Vale chegou a ser eleito Vereador em 1947. Antes de falecer estava desiludido com o parlamento e não gostava mais de falar em política, pois decepcionou-se com os políticos brasileiros.
Em 24 de junho de 1979 passou a ser marçom venerável da Loja Maçônica Oliveira Roma de Chapadinha.
Nonato Vale também militou no jornalismo amador, em 1968, por exemplo, colaborava com artigos e poesias no jornal Alvorecer, que no dia 15 de abril de 1968 estampava uma notícia auspiciosa em suas páginas para os leitores de que já se encontrava no prelo o livro do intelectual e poeta Nonato Vale de nome "Temas & Esboços", que não teve a venturosa sorte de ver sua obra criadora publicada.
Como todo brasileiro, Nonato Vale adorava futebol, e quando ainda jovem era um dos melhores centroavantes que brilhava nos campos entre Chapadinha e Luzilândia. Em 1968 chegou a presidir a LEC - Liga Esportiva de Chapadinha. Um botafoguense apaixonado, que tinha como ídolos Garrincha no futebol, Nelson Gonçalves na música e Carlos Drummond de Andrade na poesia.
Seu passatempo era ler e escrever poesias, que com garbo cantou o amor, a natureza, as ilusões, e sua partida.

Partindo

Minha terra, eu deixei, ficou distante;
E lá também, ficaram meus amores,
deixei-os todos, vim sozinho, errante,
não trouxe nada que não fosse dores.

Deixei também, mil ilusões em flores,
velhos penhascos que me viram infante.
De lá só trouxe os fundos dissabores
de uma saudade enorme e cruciante.

Campos... Agrestes... Coqueirais... Estradas...
O carnaubal... A fonte... A lagoinha...
Companheiros de infância... As vaquejadas...

Tudo eu deixei. Deixei também de alma ferida
a minha pobre mãe, que mal continha
a imensa dor da minha despedida.

Nos seus versos sempre exaltou Chapadinha como a flor do Maranhão. Cantou os oasis que circundam Chapadinha que tanto já lhe representaram nos primórdios de sua história, como vemos nesta estrofe de um poema de sua autoria dedicado a Chapadinha:

Foste outrora, talvez uma maloca,
aqui viveu uma tribo qualquer;
falaram-nos disso, ainda a macaoca,
a Aldeia, o Xororó e Vai-quem-quer...

Ao mesmo tempo ele transcende o seu amor obsessivo por Chapadinha como quem tem medo da separação.

Chapadinha (16-11-87)

Agora, deixa-me cingiste um
abraço fiel e carinhoso, e ouça
o que te quero dizer: Nem
mesmo a morte haverá de nos
separar, pois quando tiver de
baixar em minha última morada,
seja-me concedido, entre aqueles
antes queridos, um lugar em
teu seio, onde também feliz,
eu dormirei sepulto.

Nonato Vale, por certo, não passará despercebido pela história e será um dos nossos vultos, como os filhos ilustres de Chapadinha, que se imortalizaram pelo seu valor cultural pela sua inteligência invejável que foram: Oliveira Roma, Ananias Alburquerque, Pedro Mata de Oliveira Roma, Otávio Vieira Passos, Mata Roma e que hoje se inclui nessa plêiade o poeta Nonato Vale.
Não querendo ser pretensioso demais, empenhei com os parcos dados em salvaguardar a cultura Chapadinhense e a memória do poeta Nonato Vale, que defino como um poeta semeador de sonhos e de ideais, "plantador de belezas", arauto e intérprete de sua gente, sempre procurou despertar o sentimento do belo que existe em cada ser humano, embora muitas vezes não tenha sido compreendido nesse seu mister. Descobridor de pequenas e grandes coisas que ajudam o próximo no exercício da difícil arte de viver.

Herbert Lago Castelo Branco. (publicado em A GAZETINHA ESPECIAL em dezembro de 1992)

A reprodução deste texto ou qualquer parte dele é permitida, desde que seja dado o crédito de autoria e fonte, conforme as normas e leis.

 


sábado, 10 de maio de 2008

PAPO INICIAL

Em abril de 1983 criei um informativo cultural com o nome A PROSA, formato tablóide 20 x 30 de 4 páginas impressão xerocada, circulação mensal apenas no Distrito Federal e tinha como objetivo: divulgar eventos, poesias, estreitar amizades, divulgar e promover intercâmbio entre os novos poetas e escritores ditos como marginais, independentes e alternativos.
Na verdade, marginal é simplesmente o adjetivo mais usado e conhecido para qualificar o trabalho de determinados artistas, também chamados independentes ou alternativos ( por sua comparação com a imprensa nanica, teoricamente autônoma em relação a grande imprensa e contestadora em relação ao sistema).
Houve uma repercussão favorável, a idéia foi pegando corpo e o jornal A PROSA na sua 5ª edição ultrapassou a barreira do Distrito Federal, passando a ter circulação nacional com tiragem de mil exemplares que eram distribuidos gratuitamente via correios.
Viviamos a onda do "é proibido proibir" das "diretas já!" e percebi que não estava sozinho, descobri que centenas de publicações feitas em mimeógrafos, xérox, off-set, denominadas de imprensa nanica, marrom, alternativa e outros adjetivos, eram publicadas por esse Brasil a fora.
A PROSA foi além dos objetivos esperados e por questões de custos e etc. e tal, tive que parar sua publicação no ano de 1993 e todo material recolhido da época: jornais, revistas, livros, postais e etc. fazem parte do acervo da Biblioteca Alternativa como fonte de pesquisa para os interessados no assunto.
Hoje A PROSA reaparece na era digital e propositadamente com os mesmos objetivos: divulgar eventos culturais, poesias, e um intercâmbio entre os amantes das artes em geral.