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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A EPOPÉIA DOS GUERREIROS BALAIOS NA VERSÃO DOS OPRIMIDOS


Dá licença rapaziada
Que eu aqui vou relatar
(Prestem muita atenção!)
Prá depois poder contar
Pois aconteceu no Maranhão
No Piauí e Ceará

Foi em mil e oitocentos
No ano de trinta e oito
Quando explodiu a Balaiada
Com muitos cabras afoitos
Pra agarrar a burguesada
E (ó) cortar-lhe o pescoço

Unindo valentes vaqueiros
Raimundo Gomes Vieira
Na Vila da Manga chegou
Assaltando a cadeia
À toda nação brasileira
Um manifesto gritou

Exigia a revogação
Da dita Lei dos Prefeitos
Aos revoltosos anistia
Justiça aos prisioneiros
E para a tropa garantia
De pagamento em dinheiro

Reivindicava liberdade
Criticava o preconceito
Queria total expulsão
Dos lusitanos solteiros
Transformava em ação
O blá-blá politiqueiro

Brigavam "bentevis" e "cabanos"
Na política do Maranhão
Briga de jornal (lero-lero)
Vejam a comparação:
Briga de Sarney e Castelo
Pra enganar Zé Povão

A Província naquela época
Tinha problemas sociais
Sofriam caboclos e negros
Com os preconceitos raciais
Fome, "pega", desemprego.
Tudo consta nos anais

Manuel Francisco dos Anjos
De "Balaio" apelidado
Era pobre e lavrador
E teve o nome manchado
Então na guerra entrou
Pra se vingar dos soldados

Veterano de outras guerras
O chefe índio Matroá
Aderiu a Balaiada
E como líder foi lutar
Tendo menção destacada
Na luta do libertar

A participação das mulheres
É bom senso não esquecer
Escondiam os revoltados
Davam a eles o que comer
Enganando os soldados
Que queriam os prender

Corriam por essas bandas
Revoltas e insurreições
A massa escrava fugia
Para formar quilombações
Em Itapecuru, Codó, Caxias.
Turiaçú e Guimarães

É preciso contar direitinho
Para ninguém se enganar
A rebeldia dessa negrada
Lutando para se libertar
Foi antes da Balaiada
Pelo Norte se espalhar

Esses negros organizados
Chamados de quilombolas
Viram na Balaiada
Que era chegada a hora
Da liberdade sonhada
Renascer naquela aurora

Cosme Bento das Chagas
Logo então se destacou
E lá de Lagoa Amarela
Três mil negros libertou
E com tal valentia cega
A Balaiada engrossou

No Quilombo da Lagoa Amarela
A negrada tudo tinha
Caça assada no espeto
Feijão, arroz e farinha.
Água fria do Rio Preto
Ervas medicinais e mandingas.

Ali Negro Cosme implantou
Uma conceituada escola
Para ensinar ler e escrever
À toda massa quilombola
Quera o líder dizer:
“Façamos nossa história”

“Tutor das Liberdades Bentevis”
Negro Cosme foi chamado
Homem muito inteligente
Procurou ter falidos
Entre toda pobre gente

Negros livres e aquilombados
Até comerciantes pequenos
Vaqueiros e lavradores
Aderiram ao Movimento
A Revolta, meus senhores.
Foi do povo desse tempo

A guerra cresceu tanto
Invadindo até Caxias
Implantando a igualdade
Coisa que nunca se via
Foi a riqueza da cidade
Entre os pobres divididos

Os negros felizes cantavam
Sorrisos abertos e francos
"Balaio chegou / Balaio chegou
Cadê branco?
Não há mais branco
“Não há mais sinhô”

Na cidade de São Luís
Os "bentevis" amedrontados
Se juntaram aos "cabanos"
Passando pro outro lado
Sem ser por baixo dos panos
Deixaram de ser mascarados

Foi então que o Regente
Providências veio tomar
Chamou Luís Alves de Lima
E lhe pôs de tudo a par
Da guerra de Norte acima
E era para cacetear

Luís virou Presidente
Da Província do Maranhão
Com poder e muita banca
Iniciou a repressão
Jogando pessoas brancas
Contra os negros em ação

O mesmo Luís Alves de Lima
Que negociou com farroupilhas
Tratou os negros guerreiros
Como gentalha maltrapilha
Como assassinos bandoleiros.
Indignos da tal Anistia

Mais de dez mil mortes cruéis
Mulheres, velhos, crianças
Foi o saldo tenebroso
Daquela cruel matança
E o "Pacificador" orgulhoso
Da nefasta aventurança

Na Anistia acreditando
Matroá velho e cansado
Foi morto ao se entregar
Raimundo Gomes, coitado.
Foi pelo Duque deportado
E "morreu" no viajar

Mostrando muita bravura
Cosme na luta insistiu
Perseguido por todo lado
Muitas vezes ele "sumiu"
Deixando o Duque danado
Chamando-o de negro vil

No peito-a-peito com Duque
Luís Cosme sempre foi o primeiro
Não perdeu uma pro Duque
Que via nele um feiticeiro
Cheio de manhas e truques
Foi como Zumbi um guerreiro

A caça ao Negro Cosme
Um dia chegou ao fim
No Combate de Calabouço
Na Região do Mearim
Lutando feito um louco
Foi aprisionado enfim...

Da cadeia de Itapecuru
Para a cidade de São Luís
Cosme então foi enviado
E o povo ainda diz
Ele foi o maior do Reinado
Das Liberdades Bentevis

No ano de quarenta e dois
De volta a Itapecuru
Negro Cosme é enforcado
Na antiga Praça da Cruz
Deixando, porém, marcado.
A valentia a que fez jus

Partiu o Imperador Bentevi
Como um guerreiro vencedor
Que sonhou libertar seu povo
De todo regime opressor
Ergueu bem alto um sonho novo
Da Nação Quilombola Nagô

Na história que tem nos livros
Escritos pela burguesia
Cosme é o grande bandido
(Ora vejam, quem diria!)
E Luís, racista assumido.
É o herói Duque de Caxias

Contei parte da Balaiada
E da bravura daquela gente
Há muito o que contar
Da lição desses valentes
Cosme, Balaio e Matroá.
Pois quem luta sempre vence

A luta não terminou
Pois a exploração continua
Vamos ser os novos balaios
E sairmos todos às ruas
Gritando contra os lacaios

NOTAS DO AUTOR
Vila da Manga: localizava-se no hoje município de Nina Rodrigues.
Lagoa Amarela: localizava-se no hoje município de Chapadinha.
Rio Preto: o Quilombo Lagoa Amarela situava-se nas cabeceiras do Rio Preto.
"Pega": expressão usada para definir o recrutamento forçado para formar
tropas militares a fim de combater as rebeliões populares, geralmente de uma província para outra.
"Bentevis": membros ou simpatizantes do Partido Liberal (oposição ao governo).
"Cabanos": membros ou simpatizantes do Partido Conservador (governo).
"Tutore Imperador das Liberdades Bentevis": expressão com a qual Negro Cosme se
auto-denominava.
Barão de Caxias e Duque de Caxias: títulos recebidos por Luís Alves de Lima e Silva após sufocar, de forma cruel e violenta, a Guerra da Balaiada, que teve como principal centro de concentração e atuação a cidade do sertão maranhense Caxias.
Farroupilhas: Revoltosos da Guerra dos Farrapos, ocorrida no Rio Grande do Sul entre 1835 a 1845.
NINGUÉM NOS VENCERÁ E A BALAIADA CONTINUA!
Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos



quarta-feira, 20 de agosto de 2008

CHAPADINHA É ASSIM





Falar de Chapadinha é algo realmente gratificante, especialmente para nós filhos desta terra, que a vemos crescer dia após dia, a ponto de colocar-se entre as mais prósperas de nosso Estado.
Aos 70 anos e com quase 70 mil habitantes, Chapadinha é uma cidade moderna, de avenidas e ruas asfalta, vias preferenciais, trânsito ordenado. Muito movimento, principalmente nos dias de semana. Casas de comércios, mercados e supermercados com suas vitrines iluminadas oferecendo belos artigos, atraindo e provocando os compradores. Bares quentes, Churrascarias e boites, com freqüência incomum nos fins de semanas. Bancos, Escolas, Faculdades, as praças bem traçadas, em todos os recantos. A juventude vestindo roupas coloridas e agressivas. As camisas com inscrições confusas em idiomas estrangeiro, “os jeans” desbotados de tecidos grossos. Para somar desfilam e circulam com motos e motocas barulhentas.
É o progresso material crescendo ao lado do progresso de sua gente. De uma gente cujos adultos abraçam a esperança e, na experiência de uma vida conduzem os mais novos a passos seguros e serenos rumo a um amanhã cheio de glória e conquista; de uma gente cuja juventude cheia de vida, cheia de amor e abraçada à esperança parte em busca de um amanhã venturoso e feliz; de uma gente onde as crianças, retratos vivos de esperança, como a nos dizer: “Avante, o futuro nos pertence e espera”.
Estamos em fase de transição, a cidade quer crescer, quer crescer muito e carece para isto de políticas públicas eficazes, de implantação de fábricas para geração de emprego e renda, mais apoio aos pequenos agricultores. Acreditamos que isso tudo isso virá, como decorrência natural da ação de um povo que quer progredir, queiram ou não. Mesmo vivendo o clima de uma sociedade atual individualista e competitiva.
Esta é a nossa Chapadinha, a “Terra de Deus” como sempre chamo. De um Deus que nos deu um céu azul cheio de estrelas que, como guias, conduzem-nos aos caminhos do progresso. De um Deus que nos deu a natureza que, apesar dos abusos do homem, é pródiga e mantém farta a nossa mesa de cada dia. Perdoe a falta de modéstia, mas amar Chapadinha é realmente muito fácil.
O Chapadinhense ainda é solidário, principalmente nas horas amargas. Ainda somos felizes, por que somos Chapadinhenses.

Herbert Lago Castelo Branco

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

CHAPADINHA ERA ASSIM

Uma pequena cidade, ">Uma pequena cidade, , muita poeira, poucos automóveis circulando, queimando gazolina pura de marca Texaco. As lojas do Trapiá, do meu pai Benú, o Armazém Bandeirantes, a loja de peças do Senhor Amilagrense, o velho mercado de carnes, as mesmas dependuradas em galho de piquizeiros.
A molecada era dona da cidade, os grupos tomavam as ruas para os folguedos, dois tijolos de um lado e dois do outro. Estava preparado o campo de futebol, com bolas de meias ou de plástico. Ficavamos chateados quando tínhamos de parar para dar passagem a um automóvel ou carroça.
Nas portas das casas de comércio, os cavalos amarrados em argolas presas nas calçadas, a cidade financeiramente gravita-se nas vontades dos comerciantes, fazendeiros, criando vacas e plantando arroz nas roças de tôcos. A igreja Nossa Senhora das Dores era o centro religioso, as festas de setembro da padroeira agitava a comunidade católica ou não.
As noitadas ficavam por conta das praças e dos bares. O cinama do sargento Pedro no velho centro operário, trazendo filmes do Rodolfo Valentino, Greta Garbo e da Jean Harlow. Na parte baixa da cidade, no fim da rua da fumaça funcionavam "os ambientes". Nas horas mortas da noite com frequência, muitos tiros e pancadarias. No outro dia, alguém aparecia "comendo formigas". As jardineiras chegando de Parnaíba, sempre dirigidas pelo Pote e Antero, até a capital Maranhense.
A Companhia de Força e Luz Chapadinhense, com sua usina instalada na rua Ananias Alburquerque distribuia energia e luz, nos postes de aroeira sempre cheirando a piche. O meu tio Batista era que cuidava da parte elétrica, cuidando sempre dos fusíveis, queimando sempre.
As serestas das noites de luar, Raimundo Martins ao violão, o violino do Coelho e a voz romantica de Lourival Passos, trazendo saudades, despertando paixões, unindo amigos.
ÉRAMOS FELIZES, ÉRAMOS CHAPADINHENSES...
Herbert Lago Castelo Branco

A reprodução deste texto ou qualquer parte dele é permitida, desde que seja dado o crédito de autoria e fonte, conforme as normas e leis.

 

quarta-feira, 6 de agosto de 2008


A
FOME
É
OSSO
DURO
DE
ROER