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segunda-feira, 1 de abril de 2024

CENTENÁRIO DO POETA NONATO VALE - 1924 -2024 – Por Raimundo Marques

“CHAPADINHA TERRA QUE O VIU AMADURECER, FOI A GRANDE PAIXÃO DO POETA NONATO VALE”.

  

Nonato Vale em 1943


   Prefaciar TEMAS E ESBOÇOS do poeta Nonato Vale é imortalizar-se com o seu autor. Conheci e aprendi, com outros circunstantes, algumas de suas belas ´produções poética. Uma delas era indispensável nos efêmeros recitais do menestrel, e parece que era também a da sua predileção. “A Paisagem do Rodeio”, expressão da mais pura inspiração e do apego ao seu local de refúgio e de trabalho mais efetivo.

     “Do alto, a casa, no sapé descansa

     Em frente, esguio, o rio sinuoso

     E dominando o horizonte, airoso

     O coqueiral soberbo se balança” ...

     Não sabia, mas devia imaginar, que muitas outras estavam nos escaninhos de seu intelecto, constituindo a argamassa desta obra que agora vem a público para deleite de quantos tiverem o privilégio de conhece-la.

     Trata-se de uma obre que, basicamente é um canto de amor à terra e à família. A influência telúrica predomina nos seus versos.

      “Luzilândia berço amado,

      Como é grande o teu porvir,

      Teu destino está traçado

      Rainha do Piaui....

     Quanta expressão de ternura e de amor cívico à terra berço.


     Chapadinha terra que o viu amadurecer, foi a grande paixão do poeta Nonato Vale. Revolta-se sempre que, “em nome de um falso progresso”, agridam a beleza e a paz da terra que lhe acolheu. Nos muitos versos a Chapadinha, o registro da indignação é feito com veemência.

      “Aldeia fonte querida,

      Foste o berço da cidade,

      Do povo hoje esquecida,

      Só recebeste maldade” ...

Inquietava se ante a falta de visão daqueles que a governavam. O ritmo de crescimento da cidade, dizia sempre, imprimia-o a iniciativa dos seus habitantes, especialmente da classe empresarial que nunca esperou pelo poder público para desenvolver suas atividades:

     Chapadinha, foste outrora,

     Talvez uma maloca...

      Cresceste, como órfão,

      A própria custa,

      Filha pródiga desta terra adusta,

     Onde desponta progressivamente.

     E ostentas sem favor,

     O galardão de seres hoje a flor do Maranhão,

     Dando nome e fartura a tanta gente”.

     A dedicação à família foi sua fonte de inspiração permanente. O amor à família é, sem dúvida, uma expressão de bom caráter.

     “Teu vulto, minha mãe, volve-me agora

     Emoldurado, inteiro, em minha mente,

     Numa auréola de luz, resplandecente

     Como no dia em ti foste embora”.

    Essa sublimação à memória da mãe, também a mereceu o pai.

    “Meu pai viveu em aura de bonança...

    E fez da vida um livro aberto

    Onde deixou exemplos como herança

    De como pode alguém viver tão certo”. ...

    Na evocação aos irmão, de um lar prenhe de amor.

     “Foram os nossos dias mais queridos

     Aqueles que vivemos, por completo,

     Juntinhos a nossos pais, nunca esquecidos,

     De amor imenso a todos nós repleto”.

     A Serenilia, uma das suas filhas, a manifestação do amor:

     “Causa-me orgulho tê-la como minha

     Qual flor mimosa que balança ao vento,

     Se lhe abraço, me afaga e me acarinha,

     E sai correndo, noutro estouvamento” ...

    O “Hino a Luzilândia” tem lugar assegurado na Antologia das obras talentosas. Consagra-se, o poeta, e ganha o seu lugar no panteão da sua terra berço.

     “Esta terra, sem par, que nos fascina

     Do Parnaíba à beira alcandorada

     Como porte airoso de gentil menina

     É nossa Luzilândia idolatrada” ...

     Mas não foram só a família e a terra suas fontes de inspiração. Todo poeta que se preza tem suas musas. Nonato Vale não fugiu à regra. Romântico, enriqueceu a sua obra com belíssimos versos, efusões de amor e de desilusões sempre presentes, nas composições poéticas que dimanam dos impulsos do coração. Penso que não incorrerei no pecado do plágio, se no afã de matizar este comentário tão indigente de beleza literária, à guisa de prefácio, apropriar-me do gênio de Rui na “homenagem a Castro Alves”: “Eis a obra de Nonato Vale, sua obre é sua vida. A mão da morte apagou-o dentre nós; mas a glória restituiu-o ao horizonte com a estrela da manhã para o cativeiro”.

Raimundo Marques

Acadêmico da Academia de Letras, Artes e Ciências de Chapadinha

Fonte: Extraído do Prefácio do livro TEMAS E ESBOÇOS.