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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O PROBLEMA BRASILEIRO HOJE É MAIS MORAL DO QUE IDEOLOGICO



         Essa época que vai do Natal ao ano novo é um período em que faz bem refletir sobre as questões mais amplas. Isso porque, qualquer que seja a compreensão que temos da vida humana, é na relação com o sentimento dos outros que vão se definindo nossos valores.
         Historicamente, a intolerância social está associada às religiões, principalmente às grandes crenças monoteístas, podendo chegar aos níveis mais extremos, como na inquisição espanhola. É o que o escritor José Saramago chamou de fator Deus, que pode ser ilustrado pelas atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque: “De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”.
         A intolerância é uma atitude de ódio sistêmico e de agressividade irracional com relação aos indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, o seu estilo de vida e ás suas crenças e convicções políticas.
 A intolerância política, porém, não é um resultado direto dessa contradição. Surge na esfera da luta pelo poder e das disputas de natureza ideológica.
         Foi assim nas rebeliões do período regencial, nas revoltas tenentistas, na Revolução de 1930, no levante comunista de 1935, no suicídio de Getúlio Vargas e no golpe de 1964.
         No Brasil, há muita intolerância, aberta ou dissimulada. Desigualdade social, discriminação racial e preconceito de classe, tudo junto e misturado. Em casa, no trabalho, nas escolas, nos meios de comunicação, onde menos se espera surgem as intolerâncias políticas, religiosa, cultural, étnica e sexual. Elas emergem como conflito entre indivíduos, mas muitas vezes resultam da relação entre o estado e a sociedade, o governo e a oposição. É aí que surge um ódio fundado na razão.
         Há 221 anos, Robespierre prometeu que iria instalar o império da sabedoria, justiça e virtude na França. Decapitou 1.400 pessoas em 49 dias. Governou pelo terror, que ele julgava ser uma expressão da virtude.
         É bom ver o povo nas ruas, cada um defendendo o que quiser. E pedindo a cabeça de prefeito, governador, de presidente, ou de quem desejar.
O bate- boca envolvendo o compositor e cantor Chico Buarque e um grupo de jovens da elite carioca é apenas uma gota d’água nesse oceano, mas inaugura um novo capítulo da radicalização política no Brasil, que opõe o governo e a oposição. Só preciso lembrar que o país não é um time de futebol que, quando vai mal, muda o técnico.
         O problema brasileiro hoje é mais moral do que ideológico. Oposição e governo estão nas cordas bambas, ambos hostilizados, e se não houver algum tipo de esforço conjunto para recuperar o crédito social, o país ficará de protesto em protesto, sem ganhar nada.

Herbert Lago Castelo Branco
Poeta e Escritor



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