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sábado, 17 de maio de 2008

NONATO VALE: Um lírio de extinta floração.


A precocidade literária de Nonato Vale há muito se tornara conhecida nos meios sociais e estudantis de Chapadinha. E por onde ele passava, deixava seu restro luminoso de seu estro.
Raimundo Nonato Vale era filho de José Gonçalves do Vale e Florinda Jesuina do Vale, nasceu em julho de 1924 na cidade de Lusilândia no estado do Piaui, onde exerceu, em 1946, cargo na polícia civil do Estado do Piaui.
Da infância despreocupada e feliz que relembraria sempre com emoção, citando fatos vividos, eram-lhes mais gratas as recordações relacionadas aos pais, como demonstram estas duas estrofes dos sonetos Meu Pai e Minha Mãe - Minha Vida, de sua autoria.


Meu pai viveu em aura de bonança
e fez da vida sempre um livro aberto
onde deixou exemplo como erança
de como pode alguém viver tão certo.

Ao despertar do meu primeiro dia
quando os olhos abri para este mundo
ela, ao meu lado, trêmula, sorria
qual uma santa em extase profundo.

Desde os anos 40 Nonato Vale vivia feliz em Chapadinha, cidade que o recebera de braços abertos, onde granjeara grandes amigos.
Não tardou muito para que conhecesse uma ilustre jovem de tradicional familia Chapadinhese, Elin Barroso Vieira Passos, com quem se casou em setembro de 1949.
Desse consórcio nasceram os filhos: Carlos Barromeu, Ninda Celeste, Serenilia, Zizinho, Márcia Lúcia, e Luís Augusto.
Num belíssimo soneto nos fala do nascimento de sua segunda filha, relembrando mais tarde o envelo da família.

Serenilia

Existe em nossa casa, qual raínha
de deslumbre e raro encantamento
uma vivaz e meiga bonequinha,
que é de todos o divertimento.

Causa-me orgulho tê-la como minha
qual flor mimosa que balança ao vento
se lhe abraço, me afaga e me acarinha,
e sai correndo, noutro estouvamento.

Dois anos ela tem, mas não parece...
Em cada riso seu há tanto encanto
que algo divino, dele transparece

É toda a graça e envêlo da família
e eu, principalmente, a quero tanto:
Pois ele é minha filha... A SERENILIA.

Como político em Chapadinha, Nonato Vale chegou a ser eleito Vereador em 1947. Antes de falecer estava desiludido com o parlamento e não gostava mais de falar em política, pois decepcionou-se com os políticos brasileiros.
Em 24 de junho de 1979 passou a ser marçom venerável da Loja Maçônica Oliveira Roma de Chapadinha.
Nonato Vale também militou no jornalismo amador, em 1968, por exemplo, colaborava com artigos e poesias no jornal Alvorecer, que no dia 15 de abril de 1968 estampava uma notícia auspiciosa em suas páginas para os leitores de que já se encontrava no prelo o livro do intelectual e poeta Nonato Vale de nome "Temas & Esboços", que não teve a venturosa sorte de ver sua obra criadora publicada.
Como todo brasileiro, Nonato Vale adorava futebol, e quando ainda jovem era um dos melhores centroavantes que brilhava nos campos entre Chapadinha e Luzilândia. Em 1968 chegou a presidir a LEC - Liga Esportiva de Chapadinha. Um botafoguense apaixonado, que tinha como ídolos Garrincha no futebol, Nelson Gonçalves na música e Carlos Drummond de Andrade na poesia.
Seu passatempo era ler e escrever poesias, que com garbo cantou o amor, a natureza, as ilusões, e sua partida.

Partindo

Minha terra, eu deixei, ficou distante;
E lá também, ficaram meus amores,
deixei-os todos, vim sozinho, errante,
não trouxe nada que não fosse dores.

Deixei também, mil ilusões em flores,
velhos penhascos que me viram infante.
De lá só trouxe os fundos dissabores
de uma saudade enorme e cruciante.

Campos... Agrestes... Coqueirais... Estradas...
O carnaubal... A fonte... A lagoinha...
Companheiros de infância... As vaquejadas...

Tudo eu deixei. Deixei também de alma ferida
a minha pobre mãe, que mal continha
a imensa dor da minha despedida.

Nos seus versos sempre exaltou Chapadinha como a flor do Maranhão. Cantou os oasis que circundam Chapadinha que tanto já lhe representaram nos primórdios de sua história, como vemos nesta estrofe de um poema de sua autoria dedicado a Chapadinha:

Foste outrora, talvez uma maloca,
aqui viveu uma tribo qualquer;
falaram-nos disso, ainda a macaoca,
a Aldeia, o Xororó e Vai-quem-quer...

Ao mesmo tempo ele transcende o seu amor obsessivo por Chapadinha como quem tem medo da separação.

Chapadinha (16-11-87)

Agora, deixa-me cingiste um
abraço fiel e carinhoso, e ouça
o que te quero dizer: Nem
mesmo a morte haverá de nos
separar, pois quando tiver de
baixar em minha última morada,
seja-me concedido, entre aqueles
antes queridos, um lugar em
teu seio, onde também feliz,
eu dormirei sepulto.

Nonato Vale, por certo, não passará despercebido pela história e será um dos nossos vultos, como os filhos ilustres de Chapadinha, que se imortalizaram pelo seu valor cultural pela sua inteligência invejável que foram: Oliveira Roma, Ananias Alburquerque, Pedro Mata de Oliveira Roma, Otávio Vieira Passos, Mata Roma e que hoje se inclui nessa plêiade o poeta Nonato Vale.
Não querendo ser pretensioso demais, empenhei com os parcos dados em salvaguardar a cultura Chapadinhense e a memória do poeta Nonato Vale, que defino como um poeta semeador de sonhos e de ideais, "plantador de belezas", arauto e intérprete de sua gente, sempre procurou despertar o sentimento do belo que existe em cada ser humano, embora muitas vezes não tenha sido compreendido nesse seu mister. Descobridor de pequenas e grandes coisas que ajudam o próximo no exercício da difícil arte de viver.

Herbert Lago Castelo Branco. (publicado em A GAZETINHA ESPECIAL em dezembro de 1992)

A reprodução deste texto ou qualquer parte dele é permitida, desde que seja dado o crédito de autoria e fonte, conforme as normas e leis.

 


5 comentários:

Alexandre Pinheiro disse...

É sempre um prazer ter contado com um poeta como Nonato Vale. Peço autorização para públicar esse seu texto na Folha de Chapadinha. Abraço e parabéns pelo espaço!

Anônimo disse...

Obrigado Alexandre.
Quanto a autorização para publicação do texto na Folha de Chapadinha, fique a vontade.
Herbert Lago

Higor disse...

HOJE TIVE O PRAZER DE VISITAR ESTE BLOG E PUDE SER CONTEMPLADO COM ESTAS BELAS POESIAS DE POETAS CHAPADINHENSES... TÃO BOM SERIA SE TODA ESSA RIQUEZA PUDESSE SER CONTEMPLADA POR TODA A COMUNIDADE... PRECISAMOS REVER NOSSOS VALORES,QUE ESTÃO ADORMECIDOS NO SEIO DA NOSSA COMUNIDADE!!!

Unknown disse...

Sou Francisco Fortes, (familia Fortes/Castelo Branco) parente do sr Nonato Vale. Sou do pov Boa Vista dos Cariocas-Esperantina-PI. Tinha um irmáo dele casado com uma tia de minha mãe. Hoje moro em Teresina.

Anônimo disse...

Boas lembranças meu caro Herbert. Nos anos que residi em Capadinha desfrutei da amizade do Sr. Nonato. Lembro dos vários livros de sua biblioteca "Carlos Borromeu" por ele emprestados. Um gentleman.
que tive oportunidade