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quarta-feira, 11 de junho de 2008

O QUE É POESIA MARGINAL



Você provavelmente já se acostumou a ouvir a palavra marginal usada para xingar "maconheiros" e "trombadinhas", ou então para designar algumas avenidas que contornam a cidade de São Paulo. Mas quando esse termo é aplicado a poetas e poesia, torna-se um rótulo confuso. É natural que desperte indagações do tipo: Como um poeta pode ser marginal? Existe uma poesia marginal? Marginal é o poeta ou a poesia? E por aí afora.
A palavra marginal, sozinha, não explica muito. Veio emprestada das ciências sociais, onde era apenas um termo técnico para especificar o indivíduo que vive entre duas culturas em conflito, ou que, tendo-se libertado de uma cultura , não se integrou de todo em outra, ficando à margem das duas. Cultura, no caso, não significa grau de conhecimento, e sim padrão de comportamento social. Foi esse sentido, de elemento não integarado, que passou da sociologia para o linguajar comum: um delinqüente, um indigente, e mesmo qualquer representante de uma minoria discriminada foram classificados de marginais. Tudo que não se enquadrasse num padrão estabelecido ficou sendo marginal: cabelo comprido, sexo livre, gibi, gíria, rock, droga e outras bandeiras recentes que tipificam um fenômeno de rebeldia das novas gerações ocidentais denominado justamente contracultura. Tratando-se de arte, toda obra e todo autor que não se enquadram nos padrões usuais de criação, apresentação ou veiculação seriam também marginais.
Na verdade, marginal é simplesmente o adjetivo mais usado e conhecido para qualificar o trabalho de determinados artistas, também chamados independentes ou alternativos (por comparação com a imprensa nanica, teoricamente autônoma em relação à grande imprensa e contestadora em relação ao sistema). Dizer que um poeta é marginal equivale a chamá-lo ainda de sórdido e maldito (por causa da noção de antissocial), mas esses adjetivos soam mais como elogio porque viraram sinônimos de alternativo e independente. Ou seja, o sentido deixa de ser pejorativo e se inverte a favor de quem recebe o rótulo, muito embora alguns dos assim chamados prefiram outros rótulos ou não aceitam nenhum.
À primeira vista, essa inversão de valores e outras formas de "não enquadramento" serviriam como ponto de partida para tentarmos entender o que pode ser chamado de poesia marginal, quem pode ser chamado de poeta marginal e por que nem todos estão de acordo com essa maneira de chamar.
Fiquemos com o rótulo mais colado, ainda que provisoriamente. E vamos, por parte, testar à margem de quê estão esses poetas e essa poesia, do ponto de vista da perspectiva histórica, da proposta artística, da conjuntura política, do contexto cultural e dos esquemas comerciais de consumo.
Antes de tudo, veremos que, se a palavra marginal explica pouco, a palavra poesia também não significa algo definido.
Texto publicado no Jornal A PROSA em maio de 1989.

3 comentários:

cauan disse...

Rídiculo _l_

cami disse...

Quando for citar ou parafrasear alguém coloque as devidas referências. no caso: MATTOSO, Glauco. O que é poesia marginal.

cristina disse...

EU ACHO QUE CHAMAR UMA OBRA DE ARTE DE MARGINAL, É DESVALORIZAR A ARTE, QUE NÃO É INSPIRAÇÃO QUALQUER,SENTIMENTO POPULAR, ENERGIA DESFOCADA...