Poeta Herbert Lago |
A seguir entrevista realizada com Herbert Lago Castelo Branco.
EDLAINA: Como e quando começou a Biblioteca Alternativa?
R. Tudo começou em 1986 com a criação do Jornal Alternativo Cultural “A PROSA” que tive o prazer de editar até 1992. Morava em Taguatinga-DF e recebia muitos livros, revistas e jornais. Já tinha alguns livros, porque sempre gostei de ler, com os que iam recebendo fiz na minha residência uma pequena Biblioteca que dei o nome de Biblioteca Alternativa. Era uma coisa minha, para eu ler e para fazer os meus trabalhos literários. Mas ai eu abri para as crianças da quadra onde morava para fazer oficinas de artes. Eles gostavam disso, daí eu passei a gostar também. Sempre teve em minha mente (quando aposentasse) a ideia de retornar para minha cidade natal. Então, como já estava aproximando a minha aposentadoria, em 2006 vim a Chapadinha e fundei a Biblioteca Alternativa no dia 13 de dezembro de 2006. Aluguei uma sala com a Francinete, na casa dela na rua do Comércio e a partir de janeiro de 2007 eu comecei a mandar todos os livros de minha Biblioteca, que tinha em Taguatinga para Chapadinha. Aí eu falei para alguns colegas, amigos, que tinha fundado esta Biblioteca em Chapadinha. Daí eu comecei a receber uma grande quantidade de doações de livros, enciclopédias e enviava para Chapadinha pela empresa de ônibus Transbrasiliana. Uma sobrinha minha, a Rafaela, foi quem primeiro me ajudou, abrindo a biblioteca e recebendo os livros que vinham de Brasília. Justiça seja feita, o Nego Velho da Bolota também ajudou muito, era quem pegava os livros na Rodoviária de Chapadinha e levava na carroça pra Biblioteca. Só que as pessoas começaram a frequentar a Biblioteca, principalmente pelas crianças e adolescentes. No dia 21 de julho de 2007 eu oficializei publicamente com a inauguração da Biblioteca. Nunca imaginava que ela tomaria esta proporção. Acredito que tenha sido pela carência que a cidade tem. Imaginava uma coisa para ocupar meu tempo de aposentado. Mas tomou dimensões que não estão mais em meu alcance. Na verdade hoje ela não é mais minha. É do povo de Chapadinha. Acho que é o mínimo que posso fazer por essa gente e esta cidade que amo tanto.
Alunos da Faculdade Infantil |
EDLAINA:
Qual a razão deste trabalho?
R.
Porque eu acredito que a Biblioteca é o principal meio de proporcionar a todos
o livre acesso aos registros históricos, o acesso ao conhecimento e das ideias
do homem e as expressões de sua imaginação. Neste contexto, figura-se nos óbvia
a importância do livro e da leitura como fonte de saber.
EDLAINA: O
que ela significa em sua vida?
R. É
tudo! É como o que as imagens de santos são para os católicos. Como um pai que
vê um filho crescendo. Um legado que deixo para gerações futuras, como marca de
minha passagem pela terra.
EDLAINA:
Qual a importância da biblioteca para a cidade?
R.
Parece-me uma das entidades mais necessárias para a formação e o
desenvolvimento cultural das nossas crianças e jovens. Não é que a Biblioteca
vá resolver qualquer dos nossos dolorosos problemas de nossa cultura, como o
analfabetismo. Mas o incentivo ao hábito de ler bem orientado, num processo
continuo, criará uma população mais culta, critica e consciente.
EDLAINA: A
biblioteca recebe algum tipo de recurso do município ou qualquer outra fonte?
R.
Não. Embora ela esteja habilitada a receber recursos públicos e privados. Até
quando puder, não pretendo misturar política com esse trabalho. Ela é mantida
com recursos exclusivamente de minha aposentadoria. Não sei até quando vou
conseguir mantê-la.
Como se pode ver na entrevista com Herbert
Lago Castelo Branco, a Biblioteca Alternativa teve uma longa trajetória desde que
nasceu em 1986 a partir de um trabalho cultural que ele tinha em Brasília, ele
começou a receber doações de livros. Daí em diante passou a guardá-los em sua
casa em Taguatinga onde morava e teve a ideia de fazer uma pequena biblioteca
para ocupar seu tempo quando chegasse sua aposentadoria. À medida que o tempo
ia passando ele começou a abrir a sua pequena biblioteca para crianças e toma
gosto por aquilo. E mais tarde começa a mandar seus livros para Chapadinha, sem
mesmo ter em mente que aqueles livros e aquela simples vontade de se ocupar se
transformaria em um acervo literário de grande importância para a cidade de
Chapadinha. Hoje, ele reconhece sua Biblioteca como sendo um dos principais
meios de busca pela informação, pesquisa e expressão literária da cidade. E
para ele é tão importante que ele compara seu apreço à dedicação dos católicos
aos seus santos, e afirma ainda que a Biblioteca Alternativa não é sua, mas um
legado que deixa para as gerações vindouras e patrimônio para sua cidade, sendo
um lugar onde principalmente os jovens têm incentivos e orientações para
adquirirem um bom hábito de leitura, pois em sua biblioteca, ele ainda realiza
o trabalho de consultor dos alunos que o procuram, promove noites culturais com
Sarau, Luau, peças teatrais e diversas apresentações com pessoas de diversas
faixas etárias que participam ativamente de suas iniciativas. Algo relevante
nessa entrevista foi constatar que uma Biblioteca desse porte, com todos esses
anos de existência, de tão grande importância para a cidade, com cerca de dez
mil livros, seja mantida única e exclusivamente com recursos próprios do dono,
e ainda, é uma instituição habilitada a receber recursos governamentais, embora
não os receba e não tenha nem um tipo de incentivo ou divulgação por parte do
poder público.
Edlaina Vasconcelos Bezerra
Aluna de Letras da FAP –
2015
Faculdade do Baixo Parnaíba
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