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segunda-feira, 26 de abril de 2010

EPÍSTOLA DE UM CHAPADINHENSE




Tenho o hábito de colecionador e mania de guardar as coisas. Um dia desses, revirando meu “baú” encontrei velhas fotos em que a gente sempre vê o brilho de uma antiga alegria. Encontrei também cartas com data dos anos 80 enviadas pelo Sr. Nonato Vale, Sr. Mundiquinho Vieira, Delmar Carneiro, dona Alice Martins, Professora Zizete Cunha, Maria José Trapiá e de sua mãe Ana Rodrigues. Bateu a saudade e comecei a lê-las, algumas dando notícias de Chapadinha para que eu publicasse num pasquim periódico que editava mensalmente à época, denominado de A GAZETINHA e tive mais saudade ainda. Não sabia que vivia numa espécie de um paraíso. Mas chega a hora que, a contra gosto, a gente tem que sair de sua terrinha em busca de oportunidades e fui embora de minha querida cidade para a capital piauiense Teresina em 1974, com apenas 17 anos de idade, carregando em minha bagagem o sonho de vencer na vida e de um dia voltar para minha terra natal. Em abril de 1977 rumei para Brasília que acabava de completar os seus 17 anos. Foi um período de intensa formação política e de cidadania. Assisti ao primeiro comício de Lula em Brasília, no final da ditadura militar na Torre de TV. Participei do panelaço na campanha pelas Diretas já, da manifestação contra o pacote econômico do governo Sarney convocada pelas centrais sindicais e partidos políticos de esquerda. A polícia apareceu para dispersar os manifestantes preparada para uma grande operação de “guerra” com capacetes, fuzis, gás lacrimogênio, ocasião em que houve um grande conflito chamado posteriormente pelo governo e imprensa de badernaço. Respirei o gás lacrimogêneo que a polícia jogou na gente na praça dos três poderes. Estive no abraço coletivo debaixo da Bandeira do Brasil , em cima da cúpula do Senado, na passeata dos sem mil e outros importantes movimentos acontecidos na Capital Federal. Assisti também os primeiros show da maior banda de rock do Brasil, a Legião Urbana – Renato Russo, a irreverência do bloco de carnaval Pacotão, transformando repressão em samba, ganhando as “ruas” de Brasília pela primeira vez no carnaval de 1978. Escola de democracia igual não houve. Faz 36 anos que fui embora de minha querida cidade, mas eu continuo a amá-la fielmente, intensamente. Lembro-me dela e me dá uma vontade louca de estar aí, num daqueles fins de tarde rarefeitos, quando o pôr do sol é indecentemente lindo. Mas o pior já passou, já estou começando a arrumar minha bagagem, pois, faltam 20 meses para aposentar-me e voltar para minha terra, e a última coisa que quero fazer em Chapadinha é morrer.

Herbert Lago Castelo Branco
Poeta e Escritor

2 comentários:

Unknown disse...

D+, simples assim! Chapadinha aguarda e necessita de homens destemidos. Pe. Neves já está quase na falência que só a frustração dos sonhos de transformação social e político concede. Estou hoje em São Luís-MA, mas não tardará minha ida.

Herbert Lago Castelo Branco disse...

Obrigado Werbron. Não vejo a hora desse dia chegar!