“CHAPADINHA
TERRA QUE O VIU AMADURECER, FOI A GRANDE PAIXÃO DO POETA NONATO VALE”.
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Nonato Vale em 1943 |
Prefaciar TEMAS E ESBOÇOS do poeta Nonato Vale é imortalizar-se com o seu
autor. Conheci e aprendi, com outros circunstantes, algumas de suas belas
´produções poética. Uma delas era indispensável nos efêmeros recitais do
menestrel, e parece que era também a da sua predileção. “A Paisagem do Rodeio”, expressão da mais pura inspiração e do
apego ao seu local de refúgio e de trabalho mais efetivo.
“Do alto, a casa, no sapé descansa
Em frente, esguio, o rio sinuoso
E dominando o horizonte, airoso
O coqueiral soberbo se balança” ...
Não sabia, mas devia imaginar, que muitas
outras estavam nos escaninhos de seu intelecto, constituindo a argamassa desta
obra que agora vem a público para deleite de quantos tiverem o privilégio de
conhece-la.
Trata-se de uma obre que, basicamente é um
canto de amor à terra e à família. A influência telúrica predomina nos seus
versos.
“Luzilândia berço amado,
Como é grande o teu porvir,
Teu destino está traçado
Rainha do Piaui....
Quanta expressão de ternura e de amor
cívico à terra berço.
Chapadinha terra que o viu amadurecer, foi
a grande paixão do poeta Nonato Vale. Revolta-se sempre que, “em nome de um
falso progresso”, agridam a beleza e a paz da terra que lhe acolheu. Nos muitos
versos a Chapadinha, o registro da indignação é feito com veemência.
“Aldeia fonte querida,
Foste o berço da cidade,
Do povo hoje esquecida,
Só recebeste maldade” ...
Inquietava se ante a falta
de visão daqueles que a governavam. O ritmo de crescimento da cidade, dizia
sempre, imprimia-o a iniciativa dos seus habitantes, especialmente da classe
empresarial que nunca esperou pelo poder público para desenvolver suas
atividades:
Chapadinha, foste outrora,
Talvez uma maloca...
Cresceste, como órfão,
A própria custa,
Filha pródiga desta terra adusta,
Onde
desponta progressivamente.
E ostentas sem favor,
O galardão de seres hoje a flor do
Maranhão,
Dando nome e fartura a tanta gente”.
A dedicação à família foi sua fonte de
inspiração permanente. O amor à família é, sem dúvida, uma expressão de bom
caráter.
“Teu vulto, minha mãe, volve-me agora
Emoldurado, inteiro, em minha mente,
Numa auréola de luz, resplandecente
Como no dia em ti foste embora”.
Essa sublimação à memória da mãe, também a
mereceu o pai.
“Meu
pai viveu em aura de bonança...
E fez da vida um livro aberto
Onde deixou exemplos como herança
De como pode alguém viver tão certo”. ...
Na evocação aos irmão, de um lar prenhe de
amor.
“Foram os nossos dias mais queridos
Aqueles que vivemos, por completo,
Juntinhos a nossos pais, nunca esquecidos,
De amor imenso a todos nós repleto”.
A Serenilia, uma das suas filhas, a
manifestação do amor:
“Causa-me
orgulho tê-la como minha
Qual flor mimosa que balança ao vento,
Se lhe abraço, me afaga e me acarinha,
E sai correndo, noutro estouvamento” ...
O “Hino a Luzilândia” tem lugar assegurado
na Antologia das obras talentosas. Consagra-se, o poeta, e ganha o seu lugar no
panteão da sua terra berço.
“Esta terra, sem par, que nos fascina
Do Parnaíba à beira alcandorada
Como porte airoso de gentil menina
É nossa Luzilândia idolatrada” ...
Mas não foram só a família e a terra suas
fontes de inspiração. Todo poeta que se preza tem suas musas. Nonato Vale não
fugiu à regra. Romântico, enriqueceu a sua obra com belíssimos versos, efusões
de amor e de desilusões sempre presentes, nas composições poéticas que dimanam
dos impulsos do coração. Penso que não incorrerei no pecado do plágio, se no
afã de matizar este comentário tão indigente de beleza literária, à guisa de
prefácio, apropriar-me do gênio de Rui na “homenagem a Castro Alves”: “Eis a obra de Nonato Vale, sua obre é
sua vida. A mão da morte apagou-o dentre nós; mas a glória restituiu-o ao
horizonte com a estrela da manhã para o cativeiro”.
Raimundo
Marques
Acadêmico
da Academia de Letras, Artes e Ciências de Chapadinha
Fonte:
Extraído do Prefácio do livro TEMAS E ESBOÇOS.